O Deus esvaziado
Baseado na PARÁBOLA DOS FILHOS PERDIDOS
Lucas 15.11-32
Você pode fazer teologia de cima para baixo e de baixo para cima. Caso escolha fazer de cima para baixo, terá a companhia de todos os filósofos, especialmente os gregos, que se fixaram numa idéia de perfeição de Deus, e deram toda ênfase aos atributos incomunicáveis de Deus: onipotência, onisciência e onipresença, por exemplo (Jó 42.2; Salmo 139; Isaías 43.13; Lucas 18.27). Todos os que olham para Deus através desse paradigma imaginam Deus num alto e sublime trono (Isaías 6.1), habitando em luz inacessível (1Timóteo 6.16) e, invocado mediante a oração da fé, vem ao mundo fazer coisas boas (milagres) para seus filhos. Não há nada de errado nesta descrição de Deus.
Mas você também pode fazer teologia de baixo para cima. Nesse caso, você deverá deixar de lado aquilo que Deus é em termos de sua perfeita natureza eterna, e focar sua atenção na maneira como Deus escolheu se revelar e se relacionar com as pessoas na história. Seus olhos devem deixar de lado a visão ideal e abstrata da filosofia, e se voltar para Jesus Cristo, suas ações e palavras, que revelam o Pai (João 10.30; 14.9).
A Bíblia ensina que Jesus é Deus esvaziado, Deus em forma humana, em forma de servo (Filipenses 2.5-8). Jesus é Deus conosco, isto é, Deus se revela e se relaciona conosco em Jesus (João 1.14,18; Hebreus 1.1-3). Em Jesus, Deus está esvaziado, pois sua onipotência foi limitada pela fé dos que a ele se achegavam (Mateus 13.53-58), seu onisciência foi limitada pelo Pai (Mateus 24.36), e sua onipresença foi limitada pela própria encarnação.
A expressão Deus esvaziado não diz respeito à natureza de Deus. Deus é o mesmo, tanto no alto e sublime trono como encarnado na pessoa de Jesus. Mas a maneira como Deus se relaciona no céu é diferente da maneira como se relaciona na terra. No céu Ele faz tudo quanto lhe agrada e reina soberano. Na terra Ele age em e com as pessoas que atendem seu convite para a comunhão em seu Filho: "venha o teu reino, seja feita a tua vontade assim a terra como no céu" (Salmo 115.3,16; Mateus 6.10; 1Coríntios 1.9). Isso fica mais claro quando compreendemos os critérios segundo os quais Deus escolheu se relacionar com seus filhos, conforme Jesus ensina na “parábola dos filhos perdidos” (Lucas 15.11-32).
Em primeiro lugar, o Deus esvaziado se relaciona com base no critério da liberdade. O filho mais novo pede a sua parte da herança e vai embora da casa do pai. Naquela época e cultura, o pedido equivaleria a dizer mais ou menos o seguinte: “Pai, tudo o que quero é que o senhor morra. Tudo o que me interessa é seu talão de cheques”. O impressionante é que o pai não faz oposição a esse desejo do filho. O critério é a liberdade: “Você quer ir, meu filho, eu lamento, mas vou não vou amarrar você ao meu lado, não vou obrigar você a conviver comigo contra a sua vontade. Siga seu caminho”.
O Deus esvaziado não mantém relacionamentos à força, mediante manifestação do seu poder e imposição de sua autoridade soberana. O Deus esvaziado dá um passo atrás, para que você possa exercer sua liberdade de existir com Ele ou contra Ele.
Em segundo lugar, o Deus esvaziado se relaciona com base no critério da interpelação. O filho mais velho se recusa a participar da festa que o pai promove para se alegrar com o retorno do filho mais novo, que estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. O pai vai ao encontro do filho mais velho e o interpela, o confronta e o coloca diante da necessidade de uma decisão. Mas não decide por ele, nem o obriga a se submeter à sua vontade.
O pai não exige obediência dizendo “Enquanto você estiver na minha casa fará as coisas do meu jeito”. O pai confronta o filho e espera tocar sua consciência, para que, semelhantemente ao filho mais novo, ele também “caia em si”, e experimente uma transformação de dentro para fora, de modo que sua submissão à vontade do pai seja um ato voluntário e consciente de ser a melhor escolha.
Deus não é um solucionador de problemas. É um solucionador de pessoas. Deus não prometeu fazer nossa vida melhor. Prometeu nos fazer homens e mulheres melhores: semelhantes ao seu Filho (Romanos 8.28-30; 2Coríntios 3.18; Gálatas 4.19; Efésios 4.11-13).
Quem espera uma vida melhor como resultado da intervenção do Deus onipotente, onipresente e onisciente, acaba se frustrando e sucumbindo em culpa e incredulidade. Quem espera ser uma pessoa melhor e andar em comunhão com Deus, numa relação de amor e liberdade, respondendo suas interpelações e desfrutando sua presença e doce companhia é capaz de enfrentar a vida, qualquer que seja ela.
Lucas 15.11-32
Você pode fazer teologia de cima para baixo e de baixo para cima. Caso escolha fazer de cima para baixo, terá a companhia de todos os filósofos, especialmente os gregos, que se fixaram numa idéia de perfeição de Deus, e deram toda ênfase aos atributos incomunicáveis de Deus: onipotência, onisciência e onipresença, por exemplo (Jó 42.2; Salmo 139; Isaías 43.13; Lucas 18.27). Todos os que olham para Deus através desse paradigma imaginam Deus num alto e sublime trono (Isaías 6.1), habitando em luz inacessível (1Timóteo 6.16) e, invocado mediante a oração da fé, vem ao mundo fazer coisas boas (milagres) para seus filhos. Não há nada de errado nesta descrição de Deus.
Mas você também pode fazer teologia de baixo para cima. Nesse caso, você deverá deixar de lado aquilo que Deus é em termos de sua perfeita natureza eterna, e focar sua atenção na maneira como Deus escolheu se revelar e se relacionar com as pessoas na história. Seus olhos devem deixar de lado a visão ideal e abstrata da filosofia, e se voltar para Jesus Cristo, suas ações e palavras, que revelam o Pai (João 10.30; 14.9).
A Bíblia ensina que Jesus é Deus esvaziado, Deus em forma humana, em forma de servo (Filipenses 2.5-8). Jesus é Deus conosco, isto é, Deus se revela e se relaciona conosco em Jesus (João 1.14,18; Hebreus 1.1-3). Em Jesus, Deus está esvaziado, pois sua onipotência foi limitada pela fé dos que a ele se achegavam (Mateus 13.53-58), seu onisciência foi limitada pelo Pai (Mateus 24.36), e sua onipresença foi limitada pela própria encarnação.
A expressão Deus esvaziado não diz respeito à natureza de Deus. Deus é o mesmo, tanto no alto e sublime trono como encarnado na pessoa de Jesus. Mas a maneira como Deus se relaciona no céu é diferente da maneira como se relaciona na terra. No céu Ele faz tudo quanto lhe agrada e reina soberano. Na terra Ele age em e com as pessoas que atendem seu convite para a comunhão em seu Filho: "venha o teu reino, seja feita a tua vontade assim a terra como no céu" (Salmo 115.3,16; Mateus 6.10; 1Coríntios 1.9). Isso fica mais claro quando compreendemos os critérios segundo os quais Deus escolheu se relacionar com seus filhos, conforme Jesus ensina na “parábola dos filhos perdidos” (Lucas 15.11-32).
Em primeiro lugar, o Deus esvaziado se relaciona com base no critério da liberdade. O filho mais novo pede a sua parte da herança e vai embora da casa do pai. Naquela época e cultura, o pedido equivaleria a dizer mais ou menos o seguinte: “Pai, tudo o que quero é que o senhor morra. Tudo o que me interessa é seu talão de cheques”. O impressionante é que o pai não faz oposição a esse desejo do filho. O critério é a liberdade: “Você quer ir, meu filho, eu lamento, mas vou não vou amarrar você ao meu lado, não vou obrigar você a conviver comigo contra a sua vontade. Siga seu caminho”.
O Deus esvaziado não mantém relacionamentos à força, mediante manifestação do seu poder e imposição de sua autoridade soberana. O Deus esvaziado dá um passo atrás, para que você possa exercer sua liberdade de existir com Ele ou contra Ele.
Em segundo lugar, o Deus esvaziado se relaciona com base no critério da interpelação. O filho mais velho se recusa a participar da festa que o pai promove para se alegrar com o retorno do filho mais novo, que estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. O pai vai ao encontro do filho mais velho e o interpela, o confronta e o coloca diante da necessidade de uma decisão. Mas não decide por ele, nem o obriga a se submeter à sua vontade.
O pai não exige obediência dizendo “Enquanto você estiver na minha casa fará as coisas do meu jeito”. O pai confronta o filho e espera tocar sua consciência, para que, semelhantemente ao filho mais novo, ele também “caia em si”, e experimente uma transformação de dentro para fora, de modo que sua submissão à vontade do pai seja um ato voluntário e consciente de ser a melhor escolha.
Deus não é um solucionador de problemas. É um solucionador de pessoas. Deus não prometeu fazer nossa vida melhor. Prometeu nos fazer homens e mulheres melhores: semelhantes ao seu Filho (Romanos 8.28-30; 2Coríntios 3.18; Gálatas 4.19; Efésios 4.11-13).
Quem espera uma vida melhor como resultado da intervenção do Deus onipotente, onipresente e onisciente, acaba se frustrando e sucumbindo em culpa e incredulidade. Quem espera ser uma pessoa melhor e andar em comunhão com Deus, numa relação de amor e liberdade, respondendo suas interpelações e desfrutando sua presença e doce companhia é capaz de enfrentar a vida, qualquer que seja ela.
7 Comments:
Texto belo, lúcido, verdadeiro.
Um toque hermenêutico do divino Espirito sobre a parábola.
Deus continue a lhe inspirar e abençoar!
Como não poderia deixar de ser... apenas um comentário: somente o "de baixo pra cima e de cima pra baixo", ou essa separação entre "pessoas" de Deus, ainda que justifique não haver nada errado na descrição de um "Deus que habita em luz inacessível, num alto e sublime trono, que nos atende mediante a oração da fé". Chama isso de "paradigma".
Prefiro aquela imagem, que tanto você como o Pr. Ariovaldo usam. A do Cordeiro X Leão. "Eis que vem Aquele que é digno de abrir o livro...o Leão da tribo de Judá. Quando olhei, eis que ví o Cordeiro....
A perspectiva humana do Deus amoroso, que nos convida a nos relacionarmos com Ele. Que se esvaziou, como bem disse.
O Cordeiro que morreu por amor a humanidade.
Um forte abraço de quem muito lhe admira, e o ama.
Luciano
Olá Ed,
Sou leitor assíduo de seu blog. No entanto é a primeira vez que comento.
E escrevo para afirmar que é belo o texto e lindíssima a conclusão.
Há sim um conceito comum entre nós de que cristãos são heróis e possuem super poderes que os livram sempre na último momento.
Até que...
Até que venha a falência, a morte, a separação, a afetividade não hetero, o desemprego, a desilução, a traição. Aí para nada serve o Esmagador de Cabeças Cristãos.
O que sabemos é Deus amou o mundo. E isso basta porque isso é tudo e tudo é isso.
Bjão,
O pensamento a respeito de um Deus que por mim se esvaziou é confortante, animador e revigorador da minha fé. No entanto, confesso que, por vezes, fico desconfortado, desanimado e, até, enfraquecido, quando percebo minha dificuldade em me esvaziar de mim mesmo, ou deixar Deus me esvaziar para que possa me encher dele próprio.
Sei que a íntima comunhão com Ele é a resposta. No entanto, ainda que busque esta intimidade (e não sei se estou fazendo isso direito), esbarro em acessos de raiva, medos e frustrações por conta das pressões circunstanciais da vida.
Como Deus é um "solucionador de pessoas", espero crescer na experiência de perceber Sua mão, agindo sobre mim e me fazendo alguém melhor, alguém mais vazio de si mesmo, alguém mais parecido com o "Deus esvaziado".
(Valdimário Santos)
Ed, muito edificante o texto!!
Um abraço
É isso aí. A manifestação mais nítida, perfeita e conclusiva da Pessoa de Deus é Cristo, o Deus esvaziado.
Um abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
Jonathan
Esse texo é fantástico e muito me ajudou a entender Deus. Quero que mesmo doRio de Janeiro fico conectado a todas as interpretações divinamente inspirada que saem de suas boca oou de suas mãos(blog).
Tenho um acervo... e agoro estou com a juda de suas interpretações em busca da História de Deus e de deus na história...rs
Deus te abençoe mais e mais Pr Éd...obrigado por ser dispor a ser canal de Deus em minha vida
Muito mais de deus a vc!
Jonathan( Rio de Janeiro)
sou da igreja batista bethania , pr, Neil Barreto, se veio aqui ha uns anos atrás, dizer que Deus + o homem é igual ao homem sozinho..rs fantástica
Deus esteja com vc
Graça e paz
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