Emerging church?
Bastou que ficassem sabendo que eu estava lendo Brian McLaren e Rob Bell para perguntarem se eu havia aderido ao “emerging church”, ou “igreja emergente”, um movimento que nas duas últimas décadas vem ganhando corpo na igreja evangélica, especialmente de fala inglesa.[1] Você agora é do Emerging church?, querem saber. A pergunta é típica de quem gosta ou precisa rotular pessoas, e muito peculiar à realidade evangélica brasileira que vive de modas do tipo agora é isso, agora é aquilo. De minha parte, sigo o que recomenda o apóstolo Paulo: examino tudo para tentar reter o que é bom. Interessante como tem gente que confunde investigação com adesão.
Por trás da pergunta existe também uma certa ignorância a respeito do movimento emerging church. Primeiro, porque o movimento é recente e ainda não está consolidado em suas bases teóricas. Mas também pelo próprio espírito do movimento que visa romper com o dogmatismo da modernidade e abrir um diálogo mais aberto e inclusivo no contexto da chamada pós-modernidade. Dentre tantas tentativas de enquadramaento do movimento, opto por seguir o conceito de Brian McLaren:
“What are we in the so-called emerging churches seeking to emerge from? We are seeking to emerge from modern Western Christianity, from Colonial Christianity as a white man’s religion”.[2]
Em outras palavras, a igreja emergente está emergindo de onde ou de que? De acordo com McLaren, da cultura e mentalidade modernas e do imperialismo religioso anglo-americano. Isso fica mais claro quando McLaren confessa que o Emerging church está atrasado:
“African and African American Christians (Black theology) and Latin American Christians (liberation theology and integral missiology) have been hitting these themes with intelligence and passion for decades, but few of us listened to their spokespeople, whether it was Dr. King or Desmond Tutu, Gustavo Gutierrez or René Padilla”.[3]
Agora sim posso responder se estou no Emerging church. Estou sim. Desde 1983 quando li René Padilla pela primeira vez. E depois continuei lendo: a série Lausanne,[4] Richard Shaull, Orlando Costas, Samuel Escobar, Robinson Cavalcanti, Severino Croatto, Norberto Saracco, Harold Segura, Pedro Arana, os irmãos Leonardo e Clodovis Boff, José Comblin, e mais recentemente, Frans Hinkelarmmert, Hugo Assmmann, Jung Mo Sung, Juan Luis Segundo, Jon Sobrino e André Queiruga.
Há mais de 20 anos estou mergulhado no universo de pensamento onde o labor teológico acontece não apenas nas categorias da filosofia clássica, do padrão racionalista da modernidade, e do horizonte de reflexão norte-americano. Há vida, teologia, e eclesiologia fora do eixo do primeiro mundo. Há inteligência entre os pensadores que falam os dialetos africanos, o espanhol e o português. Existem casas de profetas longe de Dallas, Atlanta e Los Angeles. Pena que as editoras cristãs evangélicas sejam casas tradutoras dos que falam apenas inglês.
Oxalá o Emerging church se torne mais do que uma tentativa de dialogar com a pós-modernidade e um rompimento com o etnocentrismo anglo-americano. Oxalá o primeiro mundo ouça o suspiro dos oprimidos e considere fazer teologia para responder também ao sofrimento do corpo e não apenas às angústias da mente. Oxalá o mercado evangélico publique o que vale a pena ser lido e não o que vende. Oxalá os teólogos acadêmicos ocupem-se não somente com a ortodoxia, mas também com a práxis cristã. Oxalá os pensadores do Emerging church tirem o atraso – são benvindos em nossa estrada. Oxalá sigamos todos cobertos pela poeira dos pés de Jesus.
[1] Você pode encontrar mais informações em:
Scot McKnight. Five Streams of the Emerging Church, In: http://www.christianitytoday.com/ct/2007/february/11.35.html;
Michael Edward. An emerging Christianity,
In: http://emergingchurch.info/reflection/michaeledward/index.htm.07;
http://igrejaemergente.blogspot.com.
http://www.emergentvillage.com
[2] McLaren, Brian. Church emerging. In: Paggit, Doug e Jones, Tonny. An emergent manifesto of hope. Grand Rapids, MI: Baker Books, 2007, p. 149.
[3] Idem. p. 147.
[4] Congresso Mundial de Evangelização realizado em 1974 na cidade de Lausanne, Suíça, e que deu origem ao “Pacto de Lausanne”, que sintetizou a missão integral da igreja como “o evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens”.
Por trás da pergunta existe também uma certa ignorância a respeito do movimento emerging church. Primeiro, porque o movimento é recente e ainda não está consolidado em suas bases teóricas. Mas também pelo próprio espírito do movimento que visa romper com o dogmatismo da modernidade e abrir um diálogo mais aberto e inclusivo no contexto da chamada pós-modernidade. Dentre tantas tentativas de enquadramaento do movimento, opto por seguir o conceito de Brian McLaren:
“What are we in the so-called emerging churches seeking to emerge from? We are seeking to emerge from modern Western Christianity, from Colonial Christianity as a white man’s religion”.[2]
Em outras palavras, a igreja emergente está emergindo de onde ou de que? De acordo com McLaren, da cultura e mentalidade modernas e do imperialismo religioso anglo-americano. Isso fica mais claro quando McLaren confessa que o Emerging church está atrasado:
“African and African American Christians (Black theology) and Latin American Christians (liberation theology and integral missiology) have been hitting these themes with intelligence and passion for decades, but few of us listened to their spokespeople, whether it was Dr. King or Desmond Tutu, Gustavo Gutierrez or René Padilla”.[3]
Agora sim posso responder se estou no Emerging church. Estou sim. Desde 1983 quando li René Padilla pela primeira vez. E depois continuei lendo: a série Lausanne,[4] Richard Shaull, Orlando Costas, Samuel Escobar, Robinson Cavalcanti, Severino Croatto, Norberto Saracco, Harold Segura, Pedro Arana, os irmãos Leonardo e Clodovis Boff, José Comblin, e mais recentemente, Frans Hinkelarmmert, Hugo Assmmann, Jung Mo Sung, Juan Luis Segundo, Jon Sobrino e André Queiruga.
Há mais de 20 anos estou mergulhado no universo de pensamento onde o labor teológico acontece não apenas nas categorias da filosofia clássica, do padrão racionalista da modernidade, e do horizonte de reflexão norte-americano. Há vida, teologia, e eclesiologia fora do eixo do primeiro mundo. Há inteligência entre os pensadores que falam os dialetos africanos, o espanhol e o português. Existem casas de profetas longe de Dallas, Atlanta e Los Angeles. Pena que as editoras cristãs evangélicas sejam casas tradutoras dos que falam apenas inglês.
Oxalá o Emerging church se torne mais do que uma tentativa de dialogar com a pós-modernidade e um rompimento com o etnocentrismo anglo-americano. Oxalá o primeiro mundo ouça o suspiro dos oprimidos e considere fazer teologia para responder também ao sofrimento do corpo e não apenas às angústias da mente. Oxalá o mercado evangélico publique o que vale a pena ser lido e não o que vende. Oxalá os teólogos acadêmicos ocupem-se não somente com a ortodoxia, mas também com a práxis cristã. Oxalá os pensadores do Emerging church tirem o atraso – são benvindos em nossa estrada. Oxalá sigamos todos cobertos pela poeira dos pés de Jesus.
[1] Você pode encontrar mais informações em:
Scot McKnight. Five Streams of the Emerging Church, In: http://www.christianitytoday.com/ct/2007/february/11.35.html;
Michael Edward. An emerging Christianity,
In: http://emergingchurch.info/reflection/michaeledward/index.htm.07;
http://igrejaemergente.blogspot.com.
http://www.emergentvillage.com
[2] McLaren, Brian. Church emerging. In: Paggit, Doug e Jones, Tonny. An emergent manifesto of hope. Grand Rapids, MI: Baker Books, 2007, p. 149.
[3] Idem. p. 147.
[4] Congresso Mundial de Evangelização realizado em 1974 na cidade de Lausanne, Suíça, e que deu origem ao “Pacto de Lausanne”, que sintetizou a missão integral da igreja como “o evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens”.
6 Comments:
Vc é do emerging church??
Acredito que ja contei para você que tive o privilégio de ter a Samuel Escobar e Pedro Arana (além de alguns outros que você nao menciona no teu post) em casa, lá em Lima. São amigos da minha família e a influência deles no pensamento do meu pai é forte. Por tabela algo aprendi também. Bemvinda, digo também, a emerging church ao movimento que na América Latina já se faz presente há decadas!
Também sou daqueles que fazem parte da gota no oceano, e que acreditam que Jesus também veio para consolar a angústia da viúva que perdeu seu único filho, e alimentar os pobres ou socorrer aqueles que são saqueados na beira do caminho.
Olá, pr. Ed!
Quero dizer que também concordo com algumas idéias desse, digamos movimento.
Mais que isso, tomei a liberdade de postar seu texto no meu blog. Tudo bem?
Está em www.anotacoessobreumcristianismo.blogspot.com
Abraço fraterno,
em Cristo
com indignação, mas na paz,
Levi Nauter
Rótulos falham.
Eu acho extremamente chata essa nossa necessidade de rotular as coisas.
O "movimento emergente" tem gerado muita coisa boa e também algumas coisas não tão boas assim, mas os próprios ditos "emergentes" não curtem muito esse rótulo.
O problema também é que a coisa já é meio confusa nos EUA, aí vai chegar aqui mais confusa ainda.
Gostei do texto. Deus abençoe! Abraço!
"Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos" (1 Jo. 2.19). Pr. René, tenho estudado profundamente a Igreja Emergente e concluí que prega uma linha liberal e, portanto, apóstata. O pastor acabou de afirmar que apostatou a fé cristã ortodoxa. "Parabéns"!
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